ELEIÇÕES NO INTERNACIONAL

06-04-2011 09:03

Queria ser colorado…

…só para ser eleitor

Recentemente, o Sport Club Internacional realizou eleição para a escolha do presidente e de parte do Conselho Deliberativo do clube.

Feito o levantamento de quem estava habilitado a votar, chegou-se a um total de 47.000 eleitores.

Gravem esse número: 47.000 pessoas habilitadas a votar no presidente do clube e em membros do Conselho.

Desses, cerca de um terço, apenas, efetivamente votaram: 16.924 eleitores.

Dentre esses, nada menos que mais da metade – 53,4% – votaram via correio (e, na próxima, certamente, via internet).

Conhecidos meus de Rondonópolis e Sapezal, no Mato Grosso, votaram. Outro, de Balsas, no sul do Maranhão, votou. Mais um, de Vilhena, em Rondônia, votou. Todos eles simples torcedores do Inter. Como eles, nada menos que 9.000 torcedores do Internacional votaram pelo correio.

Detalhe: eu usei no parágrafo acima a palavra torcedores pela primeira vez nesse texto, depois de ter usado o vocábulo eleitores várias vezes. E foi proposital.

Porque o Internacional saiu na frente dos demais clubes brasileiros e, de maneira inteligente, visionária e democrática, transformou-se. No Inter, basta ser torcedor do clube para votar. Claro, há alguns trâmites mínimos, fáceis e extremamente baratos. Por pouco mais de vinte reais por mês o torcedor pode tornar-se sócio-torcedor.

Isso feito, contando dois anos de sua inscrição (com os pagamentos devidamente feitos, é claro), ele já pode votar.

Mais que isso: já pode ser votado.

O nome disso é democracia.

O significado, porém, é enorme.

Giovanni Luigi foi eleito com votação expressiva. O mesmo, todavia, não se deu na eleição para o Conselho, onde as chapas concorrentes tiveram números relativamente próximos, garantindo que a gestão Luigi será sempre bem monitorada pelos conselheiros.

Conselheiros jovens e por jovens não quero dizer idade de nascimento e sim jovens de clube, oficialmente. Gente que chega com ideias, vivências, conhecimentos, gente que vem de toda parte do país, não somente do entorno do Beira-Rio e dos bairros mais nobres da simpática e querida Porto Alegre.

A democracia chegou ao Internacional e chegou em grande estilo e trouxe com ela o futuro.

Hummmmmmmmmmmmm…

Nessa altura do texto já perdi boa parcela dos leitores.

Outra parcela está xingando o Zanquetta e sua ideia de convidar um cara pra vir aqui falar bem de um rival.

Calma. Sou são-paulino, tanto quanto qualquer um de vocês. O São Paulo FC está no meu DNA em muitos sentidos, até porque meu pai era são-paulino. Cresci ouvindo os jogos pela Rádio Bandeirantes, na voz do grande Fiori Giglioti. Em 1967 fui sozinho ver um jogo do Tricolor pela primeira vez, no Pacaembu, contra o Corinthians. Tinha, então, 13 anos de idade, e fui campeão paulista até os 44’30” do segundo tempo, quando Benê empatou o jogo. Depois, bom, depois o Santos de Pelé & Cia nos derrotou e ficou com o título, de resto com toda justiça.

Em 1969, orgulhosamente entrei na Torcida Uniformizada Coral e nela permaneci até que encerramos sua atividades, em 1972. Um período maravilhoso, viajando por todo o Estado e parte do Brasil só para ver o São Paulo jogar. O São Paulo do grande Roberto Dias, e Gerson, Rocha, Toninho e meus ídolos inesquecíveis: Paraná e Pablo Forlan.

No final dos setenta, começo dos oitenta, nem lembro direito, associei-me ao clube, mas sou pouco afeito a esse negócio de freqüentar clubes e minha esposa também.

Para fazer um pouco de graça, citarei Marx, não o Karl, mas o Groucho: Nunca me associarei a um clube que me aceite como sócio.

Bom, gracinhas à parte, sou são-paulino, mas hoje estou apaixonado pela democracia colorada. Tenho inveja dela, quero a mesma coisa e até mais para o meu São Paulo.

Quero votar para Presidente!

O que me lembra os anos de militância política, a luta contra a ditadura militar, a grande luta por Eleições Diretas. Tal como naquela época, hoje eu quero votar para presidente.

Quero o direito de escolher quem vai dirigir o clube que amo, que faz parte da minha vida.

Quero o direito de escolher quem fará parte de seu Conselho.

Quero o direito de ser votado, não que pretenda tal coisa, mas quero esse direito.

Porque eu sou torcedor e porque o São Paulo é o que é por causa de seus torcedores e por causa do futebol.

O São Paulo FC é futebol. Não só no nome, mas na sua origem, na sua essência, na sua razão de ser, na sua história, na sua grandeza.

Cabe ao futebol decidir os destinos do clube, o que significa que cabe ao torcedor esse direito e essa responsabilidade.

Um clube de futebol é um ser vivo, tal como uma nação.

Precisa renovar-se continuamente, precisa sempre de novas forças, nova energia, precisa viver o presente com os olhos no futuro e o conhecimento acumulado do passado.

Tal como uma nação civilizada, precisa da democracia. Sem ela, simplesmente, não há futuro.

O que foi bom e aceitável em 1935, 1950, 1970, 2000, já não o é mais em 2011 e menos ainda será em 2020, 2030…

Pensei muito antes de escrever esse texto, mas para escrevê-lo não pensei, simplesmente passei para a telinha o que me vai no coração, mas nesse caso o sentimento é ditado pela razão.

Poderia falar da ação política de Juvenal Juvêncio que isolou o São Paulo e compromete nosso futuro, como poderia falar de Luiz Fabiano, uma contratação maravilhosa, finalmente, embora ditada pela conveniência política do presidente. Poderia falar da disputa pelos direitos de TV.

Até comecei alguns rascunhos e deletei-os.

Deixei meu coração tricolor falar.

Por: Emerson Gonçalves

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