DESCONSTRUINDO O MITO

15-02-2011 23:25

Caros são-paulinos, em especial integrantes do Conselho Deliberativo do SPFC,

Até esta data, nosso movimento se preocupou em ressaltar as falhas jurídicas e morais do que consideramos um golpe na instituição tricolor. Contudo, tendo em vista que os artífices da infâmia tentam martelar mentiras até que se tornem verdades, somos forçados a ingressar no mérito da gestão atual, colocando em xeque a afirmação de que Juvenal Juvêncio deve ser reeleito novamente porque seria "o melhor nome disponível". Não é preciso uma análise tão aprofundada para constatar o quanto esta versão é enganosa.

A primeira distorção diz respeito ao Centro de Treinamento de Cotia. Não se questiona a excelência das instalações. Quanto ao restante, entretanto, há muito a discutir. Os números quanto a jogadores aproveitados indicam a absoluta falta de um plano sobre como lançar os atletas formados no local. A momentânea alegria pelo surgimento de Lucas e Casemiro faz esquecer que, entre a chegada destes ao time principal e a saída de Breno, foram decorridos dois anos e meio sem que um único jogador vindo de Cotia fosse titular da equipe. Nesse meio tempo, foram contratados diversos atletas de qualidade discutível, tomando espaços em que estes jovens poderiam ter sido testados. Sem saber o que fazer com os garotos encostados, Juvenal Juvêncio tentou uma parceria com o Toledo Colonia Work no Paraná, do qual nada se aproveitou. A rigor, pode-se dizer que a mudança de perspectiva só ocorreu após os processos trabalhistas de 2010, quando ficou evidente o risco de perder nomes promissores antes mesmo que entrassem em campo. Ponto para o acaso, não para Juvenal.

A segunda inverdade está no pretenso posto de guardião do Morumbi na Copa de 2014. Segundo diversos jornalistas (alguns confiáveis) já publicaram, a antipatia pela figura de Juvenal Juvêncio é um dos fatores que deixaram o São Paulo isolado na luta contra os desmandos de Ricardo Teixeira. Um exemplo clássico se deu quando o mandatário fez pouco caso da hotelaria em Belo Horizonte. Por mais que estivesse certo, tal afirmação certamente inibiu o então governador paulista de lhe dedicar apoio, uma vez que precisava do governador de Minas Gerais em seu intuito de se tornar presidente. Mas esta não foi a única mostra da falta de tato político. Juvenal Juvêncio e o SPFC passaram praticamente dois anos bajulando o presidente da CBF, quase a ponto de entoar "Doutor Ricardo é coisa nossa" quando se referiam a Teixeira. Tudo para, sem maiores explicações estratégicas, colidirem com a CBF na eleição do Clube dos 13, antecipando a ira do dirigente contra o clube e seu estádio. Mais uma vez, os instintos de Juvenal o traíram.

A atitude de peitar Ricardo Teixeira e impedi-lo de intervir no território dos clubes poderia ser perfeitamente defensável, não fosse a performance desta última semana, quando aceitou a Taça das Bolinhas. Ao menosprezar o descontentamento rubro-negro, deve causar uma crise sem precedentes no Clube dos 13, provocando o rompimento com Patrícia Amorim e abrindo terreno para Andrés Sanchez - sempre à espreita de seus vacilos - ampliar a cizânia. Novamente, não lhe bastou estar com a razão. Juvenal parece ter uma necessidade imperiosa de tripudiar dos discordantes. Ao fazê-lo, compromete todos os acertos que interessam ao clube. Entre sua afirmação pessoal e o bem do clube, opta invariavelmente pela primeira alternativa.

Se o mandato atual do presidente é controverso fora do campo, dentro dele o desempenho recente se deveu muito ao alcaide e suas contratações temerárias. Só na lateral direita tivemos uma série de fracassos, sendo que um deles sequer jogou. Em nome do "bom relacionamento" com um empresário, o chileno Saavedra passou um ano e seis meses ganhando sem atuar. Não há interesse prévio ou posterior que justifique o ridículo desta situação. Também é inacreditável que Juvenal Juvêncio, que assegura fazer parte do 1 % da população que entende de futebol, tenha feito o clube gastar dinheiro trazendo da Europa um jogador medíocre como Cléber Santana. Pior: gabando-se de estar atrás dele há três anos. Como se vê, ficaram para trás os tempos do "olho clínico" que gerou os títulos da década passada. Depois que os adversários aprenderam o caminho das pedras, a gestão de Juvenal não conseguiu mais encontrar bons valores e o resultado é um time cada vez menos competitivo.

Não queremos recontar a História para desmerecer a totalidade dos atos de Juvenal Juvêncio como presidente. Porém, precisamos cessar esta lenda, propagada por ele mesmo, de que o clube não anda sem suas decisões. Ele teve uma péssima presidência entre 1988 e 1990, e por isso não teve coragem de buscar a reeleição. Voltando do ostracismo, fez um trabalho vitorioso na montagem do campeão mundial de 2005, proporcionando aquele que, possivelmente, foi o último grande time montado no futebol doméstico do Brasil. De volta à presidência, conseguiu manter o nível de forma suficiente para conquistar o tricampeonato nacional, ainda que os problemas estivessem começando a se delinear. São méritos que não temos a pretensão de negar. Mas também não se pode esconder que, depois de abril de 2008, o fracasso foi quase total. Por mais que não se possa vencer sempre, tampouco se pode desconsiderar que muito pouco foi feito para continuar atrás das conquistas. A única semelhança entre os dois últimos mandatos de Juvenal é a pose de diferenciado. Nada mais.

Enfim, nosso objetivo é realçar que estamos prestes a ver encerrado um mandato muito ruim, de modo que causa espanto que alguém esteja disposto a recriar regras para permitir sua continuação por mais três anos. Não é crível que outra pessoa (ainda que da situação, pois reiteramos que nosso intuito é exclusivo contra o terceiro mandato) não tenha condições e vontade de fazer melhor. Juvenal Juvêncio abriu mão da oportunidade de sair pela porta da frente. Não deixem que faça o SPFC inteiro parar na porta dos fundos. 

Por Gustavo Fernandes

 

 

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