DEBATE COM RAQUEL

08-02-2011 09:53

Publicada em https://www.blogdosaopaulo.com.br    

Ontem li a coluna “A APOSTA” colocada na seção TOQUE FEMININO do Blog do São Paulo (, muito bem escrita pela Raquel Cavalcanti. Apesar de bem escrita, não concordo com a ideia geral que a coluna traz, que é basicamente mostrar que sendo o São Paulo uma instituição fechada, a torcida não teria voz lá dentro, voz que só ecoaria se essa torcida se associasse ao clube e seguisse os trâmites legais para mudar as coisas lá dentro.

Antes de mais nada devo dizer que encampo a campanha contra o terceiro mandato de Juvenal Juvêncio. Antes de mais nada, também devo deixar bem claro, pois a interpretação de textos de grande parte dos leitores na internet é complicada, que dou uma nota 7,5 pelos quase 5 anos de administração JJ, além de dar um 9,0 para ele como Diretor de Futebol na gestão MPG. Gosto do Sr. Juvenal como pessoa e acho ele uma das pessoas que mais conhecem futebol entre os dirigentes brasileiros. Alguns vão discordar, é claro, mas entendo que a maioria dos torcedores são paulinos também pensem assim. Em um possível terceiro mandato que lutarei contra, ele poderá ganhar duas Libertadores e dois Mundiais que minha nota será ZERO para ele.

Também devo deixar claro que a paixão não muda, ela continuará a mesma sendo o JJ ou outro, mas o que muda no meu caso específico é o orgulho que eu sentia do meu clube ser um exemplo de democracia em meio a tantos outros clubes onde ditadores tomaram conta. Por questão de princípios não faço parte da manada que muda de maré por um grande jogador que chega, por uma vitória grandiosa sobre um rival, por um título. O terceiro mandato dele será ZERO sempre. Comemorarei os títulos que vierem, mas darei os louros da vitória aos jogadores e comissão técnica, como deve ser.

Mas falando na parte sobre Direito, a não concordância com o 3º mandato baseia-se inicialmente na própria carta magna do clube, que é o seu Estatuto Social, que em seu ARTIGO 50 (da Competência) diz que compete ao Conselho Deliberativo eleger e empossar seu Presidente, Vice-Presidente e seus dois secretários, os quais não poderão concorrer a mais de uma reeleição.

Já o ARTIGO 84 diz que o cargo de Presidente da Diretoria será ocupado por membro do Conselho Deliberativo, eleito na forma deste Estatuto, sendo VETADA mais de uma reeleição, à exceção prevista no parágrafo único do Artigo 88 deste Estatuto, que diz: Vagando-se o cargo de Presidente da Diretoria por morte, renúncia ou cassação de mandato, o Presidente do Conselho Deliberativo assumirá automaticamente a Presidência do Clube, comunicando a ocorrência ao Conselho Deliberativo.

A interpretação marota é que como houve mudança no tempo de permanência do Presidente de dois para três anos, essa eleição de abril de 2011 seria a primeira reeleição de JJ, o que convenhamos, é um absurdo sem tamanho e que judicialmente abre uma série de problemas futuros que podem ocorrer ao São Paulo, problemas aliás que podem ocorrer com essa alteração do tempo de mandato feita há alguns anos, com ações de associados correndo na Justiça e que podem colocar o mandato de JJ entre 2008 e 2011 como “NULO”. O que dirá um mandato a partir de 2011 até 2014.

Cientes desse problema legal os membros da situação que assinam essa vergonha querem uma reunião dia 15/02 para tentar “legalizar” esse absurdo, de novo sem ouvir os associados do clube, que deveriam participar de tal mudança de Estatuto, o que com certeza pode fazer com que chovam mais ações ainda contra essa ilegalidade, somando-se as outras que já correm na Justiça. A luta do momento é contra qualquer mudança estatutária em relação a mais de uma reeleição e tentando demover o Sr. Juvenal da ideia de se candidatar. Nessa luta torcedores comuns, que merecem sim participar e associados do clube, além de apoio de conselheiros da situação ou oposição que sintam-se desconfortáveis com o “golpe”.

Eu acho que a situação merece continuar no poder pelo bom trabalho desde 2002, mas não deve continuar o JJ, que se é tão fundamental para o andamento das obras do Monotrilho ou ainda a tentativa do Morumbi ser sede da Copa 2014, que seja então em um cargo criado especificamente para esse fim. No fundo acho o Juvenal um ótimo dirigente do FUTEBOL e seria aí que eu gostaria de ver ele a partir de abril. Mas parece que a alcunha “PRESIDENTE” causa delírios totalitários em muitos dos que assumem esse cargo.

Contribuo atualmente com o Sócio Torcedor, além de assinar o PPV e comprar itens oficiais do clube. Penso seriamente em cancelar meu Sócio Torcedor, primeiro por causa desse absurdo da tentativa do terceiro mandato, segundo por não terem resolvido, desde dezembro/2010, meu problema com boletos e meu login ao site. O boleto veio, mas entrando no site vejo que todos os pagamentos que eu já tinha feito estão em aberto. Dizem que o sistema está sendo mudado para um de CRM (Customer Relationship Management), mas nunca vi tanta demora para resolver um problema simples, não só meu, mas de vários outros associados. Não incentivo boicote a nada, isso é uma decisão pessoal minha que pode ou não ocorrer, dependendo dos próximos passos do Sr. Juvenal.

Como consumidor e mantenedor do clube, mesmo não sendo associado ao mesmo (o que já fui um dia e posso voltar a ser se ativar o título), acho que temos que ser ouvidos sim, pois somos nós os clientes majoritários, aqueles que assistem aos jogos e dão audiência para medição dos valores de publicidade, aqueles que vão ao Morumbi e que pagam ingressos caros para um conforto mínimo, aqueles que em nome da paixão deixam de comprar algo em casa ou para um filho para sentirem o orgulho de estarem colaborando com o clube. Eu sentia esse orgulho, mas depois das últimas notícias dessa “virada de mesa” dei uma desanimada nesse quesito, apesar que a paixão pelo São Paulo Futebol Clube será sempre a mesma. Paixão é uma coisa, orgulho é outra…

No exemplo do banco dado por você, vale destacar que os acionistas, inclusive minoritários, sempre tem alguém no Conselho do banco empossado para participar das reuniões, representando exatamente esses milhares de acionistas que querem ver as ações do banco valorizando-se sempre. Qualquer correntista pode virar acionista, assim como qualquer torcedor pode virar Sócio Torcedor, projeto que alavancaria o São Paulo a um caminho ainda mais democrático.

Já pensou o Sócio Torcedor tendo direito ao voto e elegendo uma pessoa que representará a torcida junto aos dirigentes? Vários times por aí estão dando o caminho a ser seguido, aproximando o torcedor da administração do clube, como o Internacional e mais recentemente o Grêmio. Em outros clubes os associados votam para escolher o Presidente.

Não preciso nem citar exemplos na Europa, berço mais democrático dessa relação entre torcida e clube. Se o São Paulo parece ser visionário em muitos sentidos, e é sim, em outros ainda é de um conservadorismo irritante. Você sabia que o estatuto do São Paulo barra o ingresso de pessoas mais jovens? Dos 240 conselheiros, a cada 3 anos são eleitos 80 conselheiros através dos associados (160 deles são vitalícios). Mas veja só, em vez dos 80 mais votados serem eleitos, a proporção é que sejam 40 mais votados e 40 que tenham o número de associação mais antigo. Um absurdo, convenhamos…

Outro problema que deveria sim ser enfrentado no Estatuto, que não a perpetuação no poder, seria a forma que a oposição fiscalizaria a situação. Se a oposição quer saber sobre um contrato de camarote, digamos da empresa Aché, ela deve entrar com um requerimento, mas aí entra um outro artigo em que tal requerimento deve ser votado no Conselho. Ou seja, se a situação tiver maioria confortável, o que acontece na atual administração JJ, a oposição jamais conseguirá saber informações como tempo de contrato, valores, benefícios, etc, etc. Como ser oposição assim?

Sou a favor que todos os contratos que causem dúvidas sejam abertos ao Conselho Deliberativo para análise. O contrato com a Aché, que tem o Diretor de Marketing do São Paulo como membro da família proprietária do controle acionário da Aché, causa dúvidas à oposição e eles deveriam ter todo o direito de ter acesso a ele. A famosa expressão cabe bem nesse assunto:

À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta.

Mudanças estatutárias devem andar de acordo com as mudanças que vão ocorrendo no mundo do futebol. Clubes outrora ditatorias, passaram a ter eleições seguidas, por isso como podemos andar na contramão da história? Mudanças devem ocorrer em artigos conflitantes como o exemplo citado acima, que não dá espaço para a oposição fiscalizar. Os debates para mudanças deveriam passar como os mais jovens poderiam ser inseridos em maior nº a cada renovação do Conselho, como algumas Diretorias do clube deveriam tornar-se essencialmente profissionais, assim como um debate sobre padrões de propagandas na camisa do clube, nº de estrelas, cores e ano a ser considerado na fundação. Não é ridículo o papel timbrado do clube trazer o título paulista de 1931 e a fundação do clube ser em 1935?

Sobre participação dos torcedores comuns, orgulho-me de ter feito parte de um grupo de são paulinos que a partir de 2000 disseram CHEGA para o descaso com que o clube vinha sendo administrado pela turma do Bastos Neto e Paulo Amaral, junto com a oposição da época e junto com associados. Participamos indiretamente (apenas pela internet) da campanha pelo Leco em 2000 e diretamente da campanha de 2002 em favor de MPG. Nessa época nossa voz era ouvida e exaltada pelos mesmos que hoje parecem não estar nem aí com ela. Hoje estamos dispersos em vários espaços, devido a vaidades pessoais minhas e de outros que não precisam ser enumeradas, fator que infelizmente nos separa nas causas que deveriam ser de todos os são paulinos. Essa contra o terceiro mandato é uma dessas causas que considero justas, a chamada “boa briga”.

Muitas das ideias daquela época foram implantadas e o clube cresceu em patrimônio, títulos, torcida, imagem, etc, etc, muito por causa de MPG, muito por causa de JJ, muito por causa do Leco, muito por causa do MAC, muito por causa do Jesus Lopes, muito por causa do Julio Casares, muito por causa dos jovens do antigo GESP que hoje colaboram com o clube, muito por causa de diversos outros conselheiros e diversas outras pessoas, inclusive parte da torcida tricolor, sempre exigente e preocupada com a boa administração do clube e que mostra sua grande força na internet, vide o grande nº de espaços dedicados ao nosso clube.

A equipe contrária ao terceiro mandato do Juvenal Juvêncio já tem o site no ar (https://nemapaujuvenal.webnode.pt), já tem o abaixo-assinado com mais de 3100 assinaturas (https://nemapaujuvenal.webnode.pt/peticao/) e muita vontade de fazer barulho até abril, fortemente em 15/02. As mais de 3100 assinaturas que para muitos podem parecer pouco perante a imensa torcida Tricolor, diante do silêncio de grande parte da mídia é um nº fantástico e maior que os 240 conselheiros que votam.

Sou um fanático torcedor assumido, que se não anda indo ao Morumbi nos últimos tempos assiste a todos os jogos do clube, tenta conhecer sempre mais da história do clube, orgulha-se do passado ético e democrático dele e fala sobre Tricolor em listas de discussão, rádio (www.midiacast.com) e outros espaços. Quero e sou participante dessa campanha contra o terceiro mandato, mancha indelével que poderá denegrir nosso passado, sujar nossa imagem de diferenciados perante outros clubes e nos tornar mais parecidos com eles.

Respeitamos os conselheiros que votam pela sua dedicação ao clube, mas vale lembrar que a lealdade principal deve estar com o São Paulo Futebol Clube e sua história, não em relação a uma única pessoa. Muitos conselheiros, que do fundo do coração são contrários ao terceiro mandato (e são MUITOS), não tem coragem de expor suas opiniões por medo e alguns deles por uma lealdade esquisita pela figura de Juvenal Juvêncio.

Conheço um amigo do peito de Juvenal que preferiu afastar-se devido a divergências sobre como deveriam e como lidam no CT com os jovens revelados em Cotia nos últimos anos, além da influência nociva de uma certa pessoa da comissão técnica que foi poupado dos últimos cortes ocorridos. O terceiro mandato separa ainda mais os dois, mas aproxima ainda mais essa pessoa do que é a essência do São Paulo Futebol Clube e seu passado, e é isso que vale, essa é a lealdade verdadeira e que deve ser exaltada.

Acho que faltam “amigos” de verdade ao lado de JJ para mostrarem a ele o quanto tal terceiro mandato irá depreciar contra sua história dentro do clube. Falta coragem, saco roxo para mostrarem que outras pessoas podem assumir o cargo de Presidente, com a mesma competência e até com mais competência.

À Raquel um abraço Tricolor e que ela continue nos brindando com textos que causam esse debate sempre gostoso de ideias.

E claro, seria muito legal ter você também encampando essa luta contra o terceiro mandato. O torcedor comum também tem sua força e merece ser ouvido, como foi em 2002.

Por Fábio José Paulo (FAJOPA)

fajopa@gmail.com

www.twitter.com/FAJOPA 

 

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